Por Patricia Jacob*

Dia desses uma pessoa veio me perguntar se atendo “todo tipo de família“. Claro que respondi que sim, que família é família independente de como é sua configuração! Mas essa pergunta me fez pensar em como a palavra “família“ ainda está envolta na antiga idéia de papai, mamãe e um casal de filhos biológicos. Na realidade, esse conceito tradicional de família não é mais a norma! Estudos mostram que esse formato de família tradicional consiste em menos de 30% dos lares formados hoje em dia.

As definições de família agora incluem famílias mosaico (pais recasados e filhos de relacionamentos anteriores convivendo juntos), famílias monoparentais (somente o pai ou a mãe criando os filhos), famílias com parceiros de mesmo sexo (casais de gays ou lésbicas criando filhos também já é uma realidade inclusive aceita pela lei em muitos países), famílias com filhos adotivos (o que por muito tempo foi olhado com estranheza), famílias multiraciais (cada dia mais comum também), famílias em que os parceiros não são casados legalmente (mas que muitas vezes têm um comprometimento maior que os ‘tradicionais’) e famílias compostas somente pelo casal que opta por não ter filhos (ainda é uma cobrança social muito forte: o casal é considerado família somente se tem filhos).

A distorção em relação a isso é tão forte, que ainda se tem a idéia preconceituosa de que filho de pais separados é igual a filho problemático. Quantas crianças cheias de problemas vemos também frutos de casas com papai, mamãe e filhinho? É muito mais saudável que uma criança cresça em um lar amoroso, atencioso e não tradicional, do que num lar tradicional isento de atenção, limites e afeto adequados. Todo tipo de família tem seus desafios a enfrentar, mas o desafio mais difícil para algumas famílias é não ter sua função legitimizada pela sociedade. O desejo de todos é o mesmo: construir relacionamentos saudáveis baseados no amor, confiança e respeito.

Não importa se é diferente! Não importa o tamanho! Não importa o formato! A partir do momento em que duas pessoas têm o desejo de compartilhar a vida juntos, já temos uma família formada que merece poder viver com dignidade e respeito como qualquer outra. Precisamos rever nossos dogmas, nossa arrogância e nossos preconceitos. O que vale é o amor e a disposição das pessoas em viver bem e em harmonia.

*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.

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