Por Patricia Jacob*
Sempre me incomodei com a expressão “metade da minha laranja“ quando se fala em encontrar um parceiro ideal. Se sinto assim, me coloco de forma dependente na relação, esperando que meu parceiro seja o responsável pela minha alegria ou pelo meu bem estar. Vejo essa idéia como fruto de muita confusão nos relacionamentos amorosos. Essa idéia romântica de que um casal tem que se tornar um só é ilusória e gera expectativas irrealistas, cobranças destrutivas e discussões infrutíferas.
Tem que ser diferente… Nada de metade da minha laranja: tem que ser eu, laranja inteira com minha vida e minha individualidade, com outra laranja tão inteira quanto eu. Aí sim pode dar um suco gostoso…! Um suco no qual as duas individualidades são respeitadas e valorizadas. Porque mesmo as laranjas, apesar de serem semelhantes pois são da mesma família botânica (rutaceae), podem ser de tipos bem diversos –laranja lima, laranja da terra, laranja de umbigo, laranja pera… E não adianta teimar: uma laranja lima será sempre uma laranja lima e eu não tenho como mudar sua natureza.
O que isso tudo significa? Bom, penso que um dos maiores desafios que um casal tem que enfrentar é como lidar com as diferenças. Um casal (lembram?) é formado por duas individualidades, ambos tendo personalidades diferentes, vindos de famílias diferentes, com históricos de vida diferentes, criações diferentes, muitas vezes culturas e religião diferentes, e no caso de casais heterossexuais, sexos diferentes que funcionam e pensam de formas distintas!
A Fulana da Silva e o Sicrano de Souza não podem viver como os Silva viviam ou somente como os Souza vivem: eles têm que formar uma nova família, a Silva Souza. Fulana não pode querer que Sicrano pense e aja como ela: ele é uma individualidade totalmente diversa e tem que ser respeitado como tal! Sicrano não pode querer controlar toda a vida e o tempo de Fulana: a vida é dela e o tempo é dela e ele deve poder respeitar essa realidade sem querer sentir-se dono de Fulana.
Mas esse é um daqueles assuntos em que falar é fácil… Difícil é conseguir equilíbrio e maturidade suficientes para viver um relacionamento com tolerância, empatia e aceitação. E é sobre isso que vamos falar nos próximos artigos: pensar um pouco em como lidar melhor com as diferenças para que elas sejam fonte de crescimento e não de conflitos sem fim! Até lá!
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.