Por Patricia Jacob*
As crianças não têm a noção de onde terminam seus direitos e onde começam os direitos dos pais. Isso é verdadeiro na infância e adolescência inteiras, mas muito mais presente até por volta dos 5 anos, quando eles ainda acham que são o centro do mundo e que tudo deve girar em torno deles mesmos. No entanto, apesar dessa forma de egoísmo (o nome correto seria egocentrismo) ser absolutamente normal para as crianças até essa idade e de novo essa tendência voltar na adolescência, não significa que os pais têm simplesmente que aceitá-la e abrir mão de sua vida pessoal por isso.
Nada é mais desejado pelos filhos do que a atenção dos pais. E sempre, de uma maneira ou outra, eles a conseguem. Aí os pais aguentam até onde conseguem, e então explodem com os filhos para sentirem-se culpados depois. Isso é desnecessário e nada saudável para nenhum dos lados.
As crianças precisam, sim, de atenção (e muita!), mas deve haver limites nisso. E elas nunca vão entender os direitos dos pais se eles não forem deixando claro que há limites entre tempo para as crianças e tempo para os pais. É claro que isso tem que ser gradual. Um bebê, até pelo menos 1 aninho, realmente precisa de toda a atenção possível: a mãe e o pai têm que girar em torno dele tal qual a Terra gira em torno do Sol. Mas se isso se perpetua através dos anos, passa a ser prejudicial para todos. Uma mãe que não consegue ter tempo pra si vai se tornando uma pessoa amarga e irritável; um casal que não tem mais tempo só dos dois depois que os filhos nascem, passam a perder a tão importante intimidade do casal; e uma criança que tem toda a atenção e tudo o que quer o tempo todo, se torna um tiranozinho na vida que não aprende nada sobre respeito e os direitos do próximo.
Claro que as crianças vão resistir e reclamar muito quando os limites forem dados. Algumas têm mais facilidade em entender e algumas vão precisar de mais firmeza. Pais também merecem que suas necessidades sejam atendidas e devem ter a coragem de se darem tempo próprio sem culpa. Assim, podem estar bem consigo mesmos e com certeza vão estar mais amorosos e pacientes com as crianças.
*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.