Por Patricia Jacob*

Sempre que um casal engravida, uma das maiores curiosidades dos futuros pais é saber se o bebê vai ser menino ou menina. Isso é natural. Também é natural que surjam expectativas relacionadas ao sexo da criança, do tipo: “ele chuta tanto minha barriga… vai ser um jogador de futebol” (como se todo menino tivesse que gostar de futebol…!).

Até certo ponto, essa expectativa que projetamos nos nossos filhos é normal, esperada e não traz malefício algum à criança: de fato há algumas diferenças fisiológicas e hormonais entre os sexos que geram algumas características específicas a cada um. No entanto, frisar demais essa diferença passa a ser ruim quando sai do terreno de ser uma simples adequação social ao que é mais ou menos esperado do masculino e do feminino e passa a ser uma questão de machismo e feminismo que aprisiona e tolhe a individualidade de cada criança. Para que entendam o que estou querendo dizer, vou mostrar alguns dos maiores preconceitos dentro desse tema:

Meninos são mais fortes que meninas!

Fisicamente muitas vezes sim, não dá pra discordar, mas emocionalmente não há diferença alguma! No entanto isso acaba se tornando uma realidade sim, se as educamos como se fossem louças que podem quebrar a qualquer momento. Algumas meninas são tão ativas e “molecas” quanto os meninos e precisam viver essas características sem repressão.

Meninas são mais sensíveis que os meninos- Bobagem! São educadas para que sejam assim, mas na verdade toda criança é sensível, e precisa de carinho, compreensão, aconchego. Há diferenças aqui, mas que não dependem do sexo, e sim da natureza de cada criança.

Menino não chora- Mais bobagem! Essa frase, infelizmente muito comumente usada com os meninos, é uma das razões por que eles crescem e se tornam homens fechados e com dificuldade de expressar e lidar com os próprios sentimentos. O choro é uma função biológica do ser humano, seja ele masculino ou feminino!

Panelinhas e boneca são para meninas e carrinhos e bolas são para meninos- Outro preconceito sem fundamento na realidade. Essa ideia se criou no tempo em que ainda os papéis masculinos e femininos eram rígidos e limitados (mulheres cuidam da casa e os homens trabalham para prover mulher e filhos). Hoje em dia esses papéis são flexíveis: há mulheres “chefes de família” e que jogam futebol, há homens que dividem os afazeres da casa com as esposas, que cozinham melhor do que muitas mulheres, que se tornaram pais afetivos e presentes, entre muitos outros exemplos. E isso não faz de nenhum deles menos homens ou menos mulheres. Então, já que quebramos os preconceitos quanto aos papéis sexuais, devemos também quebrar os preconceitos quanto às brincadeiras infantis.

*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.

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