Por Patricia Jacob*
Percebemos que algumas crianças, quando começam a não querer ir à escola, é porque desenvolveram uma fobia. Fobia é um medo muito intenso e que a gente não consegue controlar. Seguindo o tema da semana passada, vamos hoje conhecer melhor como é que isso acontece. Quando a criança está fóbica, sua expressão de medo é tão clara que fica fácil reconhecer. Além disso, algumas realmente somatizam: suam frio, têm dor de barriga (parece invenção, mas não é…), podem até vomitar, tremer, passar mal.

Essa não é uma situação incomum nos primeiros anos escolares e a primeira coisa a se fazer é ser um bom ouvinte. Pergunte a seu filho como ele se sente quando acorda para ir à escola. Depois de escutá-lo, você pode dizer que vocês vão trabalhar juntos para ajudá-lo a superar o medo da escola. Você pode perguntar o que ela acha que você pode fazer para ajudá-lo. As crianças muitas vezes sabem do que precisam. Lembre-se: é preciso compreensão, apoio e suporte; castigos e tapas não costumam adiantar aqui, e muito menos gozações ou frases como “que besteira!”.

Com a ajuda da professora, tente identificar alguma dessas situações, que costumam ser as causas mais frequentes do medo:

1) Como estão as relações de seu filho na escola? A professora pode observar as relações de seu filho para ter certeza de que a criança está interagindo com os amigos de forma tranquila, sem brigas, gozações ou situações constrangedoras para a criança.

2) Como está seu rendimento escolar? Seu filho se sente bem sucedido nas tarefas? Uma criança que se sente incompetente na área escolar pode se tornar fóbica à escola e precisa de uma ajuda extra nas atividades.

3) Crianças muito cobradas e exigidas pelos pais quanto ao seu rendimento escolar podem ficar tão ansiosas que acabam por desenvolver uma fobia. Exija, acompanhe sempre suas notas e tarefas, mas seja flexível. Nem os adultos conseguem sempre “nota 10” em tudo!

4) Ciúme pelo nascimento de um irmãozinho. Você deve dizer a seu filho que você e ele terão sempre um momento especial sem o bebê quando ele voltar pra casa ou antes de irem dormir e deve dar-lhe um cafunezinho extra. Ele pode estar precisando sentir que ainda é seu filhinho querido.

5) Tente perceber se houve alguma mudança importante na rotina de seu filho ou da família. Normalmente as crianças são muito sensitivas e percebem quando algo não vai bem na vida familiar ou na relação dos pais, se sente infeliz e pode desenvolver a fobia como um “pedido de ajuda” silencioso.

6) Pode ser que seu filho esteja passando por aquela fase em que descobrem a possibilidade de perdas na vida (as mais novinhas não têm muita consciência disso ainda) e passam a ter fantasias de que serão esquecidos na escola ou têm medo dos pais morrerem ou abandoná-los. Se perceber que esse é o caso, lembre-se de sempre contar a seu filho o que vai estar fazendo enquanto ele estiver na escola, dê seu telefone à professora na frente dele dizendo que poderá ligar caso alguma coisa aconteça e tome o cuidado para nunca se atrasar muito ao pegá-lo.

À seguir vão algumas dicas de como facilitar essas situações:

1) Estabeleça uma rotina: faça com que a rotina de preparo para ir à escola seja predizível e sem pressas. Fazer as coisas com pressa e sob pressão pode produzir um estado acelerado de respiração parecido com a ansiedade e piorar a fobia.

2) Peça para seu filho escolher um objeto secreto para levar à escola: isso pode servir como um confortador. Seja lá o que for, deve ser pequeno para que ninguém veja, mas em algum lugar fácil para que ele olhe ou sinta quando sentir saudades ou medo. Só vocês saberão sobre esse objeto e devem fazer disso uma cumplicidade.
3) Converse com seu filho sobre a coragem: conte quantas coisas você mesmo fez mesmo tendo medo. Coragem é fazer alguma coisa, mesmo quando se tem medo. Ela tem que ir à escola, com medo ou não e você pode estimulá-la a enfrentar esse medo. Veja filminhos (como o Rei Leão) ou conte histórinhas que falam de coragem. Ela vai se sentir melhor sabendo que não é a única a ter medo e se sentirá mais forte para enfrentá-lo.

Entendendo o que está acontecendo e usando algumas dessas estratégias, você logo deve perceber uma redução da ansiedade e a criança haverá superado o medo. Se isso não acontecer, você deve procurar a ajuda de um especialista.

OBS: Aqui vão algumas dicas básicas. Se elas não te ajudaram, é sinal de que precisa procurar um profissional e falar AO VIVO com ele, para que ele possa avaliar com profundidade o seu caso. Infelizmente não posso responder perguntas de casos específicos via e-mail, ok? 😉

*Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela USP-SP.

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