Por Patricia Jacob*
Uma das grandes preocupações dos pais hoje em dia é a possibilidade de seus fihos um dia se envolverem com drogas… Nós, profissionais da saúde, também estamos bastante preocupados com o que está acontecendo com nossos jovens e adolescentes hoje em dia: o índice de jovens envolvidos de forma séria com drogas está cada vez maior, e acontecendo cada vez mais cedo em suas vidas. Como todos sabem, não temos mais como fechá-los numa redoma e evitar que tenham contato com alguma delas em alguma época de suas vidinhas. Na verdade, esse primeiro contato normalmente começa dentro de suas próprias casas, com o álcool ou o cigarro, que hipocritamente não são vistos pela sociedade como drogas.

Para evitar que nossos filhos se tornem dependentes, de nada adianta simplesmente dizer “drogas não fazem bem pra você”. Os conselhos e as informações sobre as consequências das drogas em suas vidas é só um pequeno passo para ajudarmos nossos filhos, mas temos que fazer muito mais. Temos que começar a mudar a dinâmica de nossas relações com eles, nos abrindo para a comunicação, ajudá-los a construir uma estrutura emocional forte desde a tenra infância, além de cuidar muito da maneira com que estamos passando certos ensinamentos a eles. Orientar seus filhos a ”dizer não“ às drogas e à violência é inútil se os próprios pais mandam mensagens opostas ou são exemplos que ”dizem sim“. As crianças aprendem muito por observação e imitação do comportamento alheio, tendo como primeira referência para isso os próprios pais. Nossas palavras e ações passam mensagens que influenciam as atitudes e comportamentos de nossos filhos.

Vamos falar um pouco, então, de pequenos, mas importantes comportamentos que os pais podem tomar para evitar que seus filhos se envolvam com drogas. Alguns parecem rotineiros, mas são todos essenciais:

1) Dê um bom exemplo no uso de medicamentos. Vamos pensar juntos: na maior parte das vezes, o que leva o adolescente a procurar drogas? O fato de não conseguir lidar com suas angústias (e não ter quem as acolha) e precisar de um “anestésico” de sentimentos, ou um “desangustiante”. Então sempre que vamos falar em prevenção às drogas, devemos antes nos perguntar como está nosso armarinho de remédios (sabe aquele lugarzinho encima da geladeira ou o armario do banheiro em que guardamos aquele monte de medicamentos??). Certos remédios são tão nocivos e aditivos (ou seja, viciam) quanto as drogas, desde a aspirina para aquela dorzinha de cabeça que costuma ser constante, até o calmante para dormir.

O uso indevido de certos medicamentos também podem passar a ter o mesmo papel das drogas, e fazendo uso disso, você vai estar transmitindo ao seu filho a mensagem de que é mesmo impossível lidar com nosso stress ou com nossas angústias do dia-a-dia sem “bengalas” químicas. Seja cuidadoso quando usar medicamentos prescritos ou não. Mostre aos seus filhos que você pode lidar com leves dores ou tensões sem ter que tomar medicamentos. Instrua seus filhos a nunca tomarem nenhum remédio sem sua permissão.

2) Se você toma bebidas alcoólicas, demonstre responsabilidade. Use álcool com moderação e evite dar desculpas para beber, como ter tido um péssimo dia. Uma coisa é beber para comemorar ou celebrar algo, e outra coisa é beber para desangustiar ou aliviar tensões. Nesse último caso -que infelizmente é a maioria- o álcool acaba tendo o mesmo papel dos medicamentos citados acima, e o mesmo perigo. Beber com responsabilidade na frente das crianças não é problema, mas elas vão notar o quanto você bebe, quando e porquê. Nunca permita que as crianças preparem ou sirvam bebidas a visitas, e nunca dê bebidas alcóolicas a crianças… nem aquela cervejinha por brincadeira.

3) Compartilhe seus sucessos -e insucessos- com seus filhos. A gente vive tentando melhorar alguns aspectos de nossas vidas, não é? E nem sempre é fácil… Talvez você esteja tentando perder peso, parar de fumar ou de beber, adotar um estilo de vida mais saudável. Quando você está fazendo um esforço para mudar seu próprio comportamento, fale sobre isso com suas crianças. Não tem problema se eles souberem que você falhou — isso pode facilitar com que eles te contem quando cometeram um erro. O importante é perceberem que você está tentando. Com isso, você também está passando uma mensagem importante: mudar não é fácil e erros são oportunidades para aprendermos sempre. Esse tipo de conversa abre muito a ponte de comunicação entre pais e filhos.

4) Não é porque você -pai ou mãe- tem um vício, que fica “sem moral” para não permitir que seu filho o tenha. Alguns pais vêm me contar que fumam ou bebem muito e seus filhos acabam imitando seus comportamentos. Ficam preocupados, mas com o medo de serem “colocados contra a parede” sobre seus próprios vícios, acham que não têm como proibir que seus filhos o façam. Com isso, acabam não dando limites nesse sentido achando que não têm o direito, ou acabam caindo na chantagem dos filhos quando eles dizem “Você não tem moral para me proibir!”. Os pais, mesmo tendo seus vícios, podem e devemdizer aos filhos algo parecido com isso: “Eu, na minha adolescência, não tive quem me orientasse e acabei entrando nessa. Tento sair, mas ainda não consegui. E eu, como seu pai (ou mãe) que se importa com você, não quero e não vou permitir que você cometa o mesmo erro que eu!”. É claro que os filhos devem sentir que o pai realmente se esfoça para acabar com seu próprio vício, certo?

5) Compartilhe seus valores com seus filhos. Não pense que seus filhos conhecem os valores e regras de sua família sobre sexo, drogas, comportamentos aceitáveis e outros assuntos – fale explicitamente sobre esses temas. Converse sempre que tiver oportunidade sobre o que você acredita sobre esses e outros valores importantes, como honestidade, responsabilidade, confiança. Mas cuidado: essa conversa não pode parecer ”sermão“, ou será prontamente rejeitada pelo jovem.

6) Discuta como a TV mostra o álcool, cigarro e drogas. Converse com seus filhos sobre imagens e mensagens mostradas pela televisão, músicas, filmes, e outros meios de comunicação que incentivam o álcool e as drogas. Deixe-os saber o que você pensa e ajude-os a reconhecer o que está por trás do que parece ser glamoroso. Com isso, você está aguçando o senso crítico de seus filhos, fazendo com que não acreditem em tudo o que vêem ou ouvem.

7) Cultive a ponte de comunicação com seu filho. Toda criança e adolescente precisa de adultos que sirvam como referência durante o processo de crescimento, pessoas que possam apoiá-las e ouvi-las quando têm algum problema ou dúvida sobre coisas que muitas vezes parecem ser banais. Se você não estiver pronto para escutá-los e acolhê-los quando precisam, eles certamente vão procurar essas referências fora de casa, e então não sabemos que tipo de ”referências“ vão encontrar lá fora..

8) Demonstre seu próprio senso de auto-respeito e auto-estima. Cuide bem da sua própria saúde, seguindo uma dieta balanceada, exercitando-se regularmente, e tendo passatempos saudáveis. Assim você vai prover comportamentos valiosos para que seus filhos imitem (e você vai sentir-se melhor com isso também!).

9) Mostre que você valoriza sua independência. Deixe seus filhos saberem -por suas ações e palavras- que você não tem que fazer o que os outros querem, mas prefere tomar suas próprias decisões e pensar e agir independentemente – e que você não faz algo simplesmente porque ”todo mundo faz“.

Patricia Jacob é psicóloga clínica formada pela Universidade de São Paulo (USP-SP).

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